Como uma expedição no Pará inspirou a criação de uma nova unidade de conservação
Por Alexandre Mansur e Angela Kuczach*
É na Amazônia, onde a natureza revela seus gigantes, que surge uma nova esperança para a conservação. Em apenas dois anos, um movimento inspirou transformações importantes em parte da floresta. Em setembro de 2022, uma expedição no norte do Pará, revelou a maior árvore da América do Sul: um angelim-vermelho com 88,5 metros de altura e mais de 400 anos. A descoberta não apenas impressionou pela grandiosidade do exemplar, mas também serviu como alerta para os riscos que essa região enfrenta, especialmente com a expansão do garimpo e do desmatamento. A partir desse momento, nasceu uma mobilização que culminou na campanha #ProtejaAsÁrvoresGigantes. Agora esse esforço foi coroado com a criação do Parque Estadual das Árvores Gigantes, decretado em setembro de 2024 pelo governo do Pará.
Logo após a descoberta do angelim-vermelho, diversas organizações se uniram para exigir maior proteção da Floresta do Paru, unidade de conservação no Pará onde as árvores gigantes foram identificadas. A campanha #ProtejaAsÁrvoresGigantes ganhou força rapidamente, sensibilizando a opinião pública e pressionando as autoridades estaduais. Em dezembro de 2022, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas) cancelou mais de 500 Cadastros Ambientais Rurais (CAR) irregulares na área, combatendo parte das ameaças diretas ao território.
Em 2024, com uma agenda ambiental revitalizada no cenário político brasileiro, a campanha assumiu um papel ainda mais estratégico. A transformação de parte da Floresta Estadual do Paru em uma unidade de conservação de Proteção Integral se tornou uma demanda prioritária, unindo conservação e valorização da biodiversidade local, com forte apoio da sociedade civil e de movimentos como Um Dia No Parque, a maior ação de mobilização pelas áreas protegidas do Brasil.
O Brasil possui 12 categorias de Unidades de Conservação (UC), distribuídas entre Uso Sustentável e Proteção Integral. As Florestas Estaduais se enquadram no Uso Sustentável, permitindo a exploração de recursos naturais, como a extração de madeira, desde que seguindo normas rigorosas. Contudo, essa categoria oferece uma proteção menos restritiva. Em contrapartida, os Parques fazem parte das UCs de Proteção Integral, onde é permitido apenas o uso indireto dos recursos, com destaque para o turismo de natureza como atividade econômica central.
A definição da categoria de uma área leva em conta sua vocação natural. A Floresta do Paru, que abriga a maior árvore da América do Sul, merece ser admirada por visitantes de todo o mundo. A transformação de parte dessa floresta em Parque Estadual possibilita uma proteção mais robusta ao angelim-vermelho e sua biodiversidade, além de gerar oportunidades econômicas sustentáveis para as comunidades locais.
Um legado de preservação
Em setembro de 2024, durante o Global Citizen Festival, em Nova York, o governador do Pará, Helder Barbalho, anunciou oficialmente a criação do Parque Estadual das Árvores Gigantes. Com cerca de 560 mil hectares protegidos, essa nova unidade de conservação é um marco histórico para a preservação ambiental no Brasil. Além de proteger o angelim-vermelho e outros exemplares gigantes, o parque fortalece a luta contra o garimpo ilegal e o desmatamento, demonstrando o potencial dos movimentos sociais organizados.
Proteger árvores centenárias como o angelim-vermelho significa salvaguardar a história natural do planeta e as interações complexas que ocorrem sob suas copas, das quais dependem incontáveis formas de vida.
O novo parque também abre novas oportunidades para o ecoturismo, um setor no qual o Brasil já se destaca globalmente. Em 2023, o país foi eleito o melhor destino para ecoturismo pela Forbes Advisor, um reconhecimento da sua incomparável biodiversidade. Ao combinar proteção ambiental com o desenvolvimento sustentável, o parque pode se tornar um exemplo de como turismo e conservação podem caminhar juntos, beneficiando as comunidades locais e fomentando a educação ambiental.
As árvores gigantes têm potencial para se transformar em um ícone global da sustentabilidade. A vegetação exuberante da região desafia o tempo e a gravidade, carrega uma mensagem de resiliência e esperança para as próximas gerações. No entanto, é fundamental que o poder público mantenha uma fiscalização rigorosa e implemente planos de manejo eficazes para garantir a preservação contínua da área.
Este é um legado que transcende governos e gerações, fortalecendo a percepção dos brasileiros sobre a importância da nossa riqueza natural. O Parque Estadual das Árvores Gigantes é mais do que uma unidade de conservação: é um símbolo do que podemos alcançar quando unimos ciência, sociedade e política em prol de um futuro sustentável. O Brasil, dono da maior floresta tropical do mundo, reafirma assim seu papel de liderança global na preservação da biodiversidade e no combate às mudanças climáticas. E, como as árvores gigantes que agora se erguem protegidas, nossa responsabilidade com a Amazônia precisa ser igualmente firme e duradoura.
*Alexandre Mansur é jornalista e diretor de projetos do Instituto O Mundo Que Queremos. Angela Kuczach é bióloga, ativista, diretora executiva da Rede Pró UC e idealizadora do Um Dia No Parque.
Este artigo foi publicado no Um Só Planeta.
Necessito o contato da Bióloga: Angela Kuczach, para conversar a respeito de Unidade de Preservação Florestal. Meu whatsapp `+55 18 99785 1301.
Atenciosamente. Milton Lima – oab/sp 57.378